Resumen:
Este trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa em andamento a respeito das estratégias educacionais de jovens de classe média no Brasil. O objetivo é examinar como os percursos formativos destes/as estudantes relacionam-se com o avanço da “Nova Direita” (APPLE, 2017) na política educacional brasileira (LIMA, HYPOLITO, 2019). O artigo dedica-se à pesquisa das classes médias na educação, tema considerado “lacunar” (NOGUEIRA, 2013), ainda que se trate de um estrato decisivo na reprodução das desigualdades educacionais e sociais (BALL, 2003; SOUZA, 2018). Teoricamente, o trabalho leva em conta que a aliança conservadora da “Nova Direita” é composta por quatro grupos: neoliberais, neoconservadores, populistas autoritários e a classe média, constituindo-se como um bloco hegemônico (GANDIN; HYPOLITO, 2003). Deste modo, o trabalho explora como as estratégias educacionais da classe média articulam-se às pautas dos demais grupos da “Nova Direita”. Metodologicamente, o trabalho se utiliza de uma etnografia longitudinal: após a realização de observação participante e entrevistas com uma turma de segunda série do ensino médio de uma escola privilegiada em um centro urbano brasileiro, em 2018, agora são realizadas entrevistas, em 2022, com os/as mesmos/as jovens, sobre como realizam a transição da escola para a universidade e como imaginam seu futuro no mundo do trabalho. Os dados estão sendo, neste momento, organizados, em diálogo com a literatura a respeito do avanço neoliberal e neoconservador na educação. Quanto aos resultados preliminares, destaca-se o que chamamos na pesquisa de
entitlement de classe (SKEGGS, 2003): os investimentos educacionais são instrumentos distintivos, incorporados como “direitos naturais”, a eles/as devidos/as – como as vagas na universidade, o tempo para estudo e os recursos materiais para a permanência com qualidade. Discute-se, assim, como estas estratégias articulam-se com políticas educacionais hegemônicas, sob uma perspectiva meritocrática e exclusiva da educação, reforçando desigualdades de classe, raça e gênero, dentre outras.
Referencias bibliográficas (opcional):
APPLE, Michael W. A Educação pode mudar a sociedade? Petrópolis: Vozes, 2017.BALL, Stephen J. Class strategies and the education market: the middle classes and social advantage. London: Routledge Falmer, 2003.GANDIN, Luís Armando; HYPOLITO, Álvaro Moreira. reestruturação educacional como construção social contraditória. In: HYPOLITO, Álvaro Moreira; GANDIN, Luís Armando. Educação em tempos de incertezas. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 59-92.LIMA, Iana Gomes; HYPOLITO, Álvaro Moreira. A expansão do neoconservadorismo na educação brasileira. Educ. Pesqui, v. 45, p. e190901, 2019.NOGUEIRA, Maria Alice. Um tema revisitado: as classes médias e a escola. In: APPLE, Michael W.; BALL, Stephen J.; GANDIN, Luís Armando (org.). Sociologia da Educação: análise internacional. Porto Alegre: Penso, 2013. p. 280-290.SKEGGS, Beverley. Formations of class and gender. London: Sage, 2002.SOUZA, Jessé. A classe média no espelho: sua história, seus sonhos e ilusões, sua realidade. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2018