Resumen:
Qual é o corpo que dança? Qualquer corpo. Porque é possível dançar, mesmo imóvel. O movimento também acontece dentro da gente. Ao longo das Histórias da sociedade, pessoas com deficiência eram vistas e tratadas de forma pejorativa no convívio social e nas Artes. Movimentos Sociais e os Disability Studies, foram fundamentais para mudar a perspectiva funcional sobre os corpos com deficiência. Costumo dizer que a diferença entre um corpo com deficiências reconhecidas com relação a um corpo sem deficiências aparentes é a definição de incapacidade que ele carrega histórico-socialmente. O que o meu corpo faz se não pode sair sozinho, se comunicar com facilidade, aprender com qualidade, se cuidar e ser cuidado com atenção, sem ser visto, ouvido, tocado carinhosamente, sem ser aceito como ele é e sem poder se divertir? O corpo se reprime, se afasta, se inibe, se culpa, se esconde, chora, grita, se apavora, sente medo, sente-se sozinho, sente-se frio e sem criatividade para se movimentar. O corpo se aprisiona na prisão que foi imposta a ele. Durante a História da Humanidade, corpos com deficiência foram vistos com desprezo, medo e agressão. Para subverter o inconsciente-colonial-capitalista, citado pela professora Suely Rolnik, o olhar que eu proponho para estes corpos é o de aproximação, interesse, cuidado e criação. Criação com eles, para eles e por eles. Olhá-los com aquilo que se vê, sem silenciar as deficiências e aquilo que não se enxerga, que são todas as outras esferas da vida. A cena Hábraços e o espetáculo Amplexos são necessários para pensar políticas, corpos e abraços, ainda mais em um tempo em que não se pode abraçar.
Referencias bibliográficas (opcional):
AGAMBEN, Giorgio.
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