Resumen:
Os últimos anos têm sido bastante esclarecedores no que diz respeito ao incipiente processo de institucionalização da cibersegurança no Brasil, dados os diversos desdobramentos da crise político-sanitária induzida pela pandemia de Covid-19 e a atual presidência de extrema-direita de Jair Bolsonaro, que desde o início de seu mandato conseguiu povoar o governo federal com um número inédito de quadros militares, desde a redemocratização do país, em 1988. Sob a cortina de fumaça da má gestão da pandemia, um setor parece estar recebendo crescente atenção do Ministério da Defesa e as Forças Armadas, nomeadamente a de segurança cibernética. A consolidação da doutrina nacional de segurança cibernética encontra seu ápice com o estabelecimento de uma tardia Estratégia Nacional de Segurança Cibernética (E-Ciber), o primeiro registro oficial dos princípios brasileiros para o desenvolvimento do setor no futuro imediato. Este marco é acompanhado pela intensa adaptação de grande parte das atividades do país ao mundo virtual, bem como pela subsequente multiplicação de ameaças que supostamente emergem das vulnerabilidades intrínsecas do ciberespaço, que - em grande medida - vêm legitimando silenciosamente a adoção de um uma série de medidas excepcionais, como tecnologias de reconhecimento facial e coleta irrestrita de dados pessoais por novos programas de vigilância empregados principalmente pelas forças policiais, mas também por várias agências governamentais. Embora a radicalização desse processo na direção da militarização da cibersegurança e da vigilância estatal em nível nacional seja recente, esta investigação busca analisar a emergência do aparato nacional de vigilância estatal, entre 2010 e 2021, à luz do entendimento de que a abordagem da segurança pública historicamente se apoiou em práticas de pacificação e anti-insurgência, que obscurecem não apenas distinções como dentro/fora, guerra/paz, mas a própria oposição entre regime democrático e autoritário, situado no cerne das políticas securocráticas contemporâneas.
Referencias bibliográficas (opcional):
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